25 de Abril de 2013 em São Paulo-Brasil
Participaram
na sessão cerca de 300 pessoas e foram feitas diversas intervenções
relembrando o que representou o 25 de Abril para Portugal e para o
Mundo. Por proposta da Câmara foi homenageado o Centro Cultural 25A
que recebeu uma salva de prata assinalando a amizade entre os Povos.
Fizeram parte da Mesa da sessão, Ildefonso Garcia presidente do Centro Cultural 25 de Abril de São Paulo, Orlando Silva, antigo ministro do Governo Lula e actual vereador pelo PCdoB em representação do presidente da Câmara, José Zico Prado, deputado estadual pelo PT, Simão Pedro secretário da presidência da Câmara, António Almeida e Silva, presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas de São Paulo, o Comendador António de Campos, presidente da Casa de Portugal, e Renato Gonçalves e José António Fernandes, luso-descendentes, membros da Câmara de São Paulo, um município com mais de 12 milhões de habitantes.
Esteve ainda presente como convidado de honra Paulo Lourenço, cônsul geral de Portugal em São Paulo.
Na sua intervenção, Ildefonso Garcia referia: "Como reflexo da vitória da Revolução dos Cravos, caíram também as ditaduras na Grécia e em Espanha, terminou a Guerra do Vietname. Em seguida, uma a uma, foram sendo derrubadas as ditaduras militares da América do Sul e Central. O mundo assistia pela primeira vez a um exército ao lado do Povo (...) Também orgulhosamente podemos declarar que este evento integra as comemorações oficiais do ano Portugal no Brasil, com o aval do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal.
As comemorações prolongaram-se pelo dia 27 com a deposição de um ramo de cravos no monumento "As portas que Abril abriu" erguido pelo Centro Cultural 25A no Jardim Mestre de Avis, em pleno coração de São Paulo.
Maio de 2013
INTERVENÇÃO de Ildefonso Garcia na sessão do 25 DE ABRIL DE 2013 em SÃO PAULO - BRASIL
Agradecimentos
Em nome do Centro Cultural 25 de Abril, Associação Luso- Brasileira sediada em São Paulo, saudamos a presença de todos os senhores e senhoras nesta sessão solene no plenário 1° de Maio da Câmara Municipal da cidade de São Paulo. Nossa entidade sente-se muito prestigiada pela decisão do vereador Paulo Fiorilo, convidando-nos para participar das comemorações da Revolução dos Cravos e homenageando-nos com a entrega de salva de prata nesta data. Nobre vereador Paulo Fiorilo, aceite nossas homenagens e agradecimentos. Muito nos honra sua iniciativa e sua presença presidindo este ato cívico de Luso-Brasilidade nesta casa, que assinala A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS responsável pela queda, de uma vez para sempre, do ditatorial regime político em Portugal liderado por Oliveira Salazar e depois por Marcelo Caetano. Era adoptado o corporativismo fascista e utilizada, para oprimir o povo português, sua odiosa polícia política, a famigerada PIDE (Polícia Internacional de defesa do Estado). Não podemos deixar de agradecer ao presidente desta casa, vereador José Américo, que apoiou de coração esta iniciativa. Já comprometido com nosso Centro Cultural 25 de Abril, há alguns poucos anos, quando então, sub-prefeito na sub-prefeitura de Vila Mariana, nesta cidade, ajudou a tornar possível a iniciativa de erguer na Praça Mestre de Avis, no Ibirapuera, no Jardim Lusitânia, um grandioso monumento em homenagem à Revolução dos Cravos, denominado "As portas que Abril abriu", inaugurado pela então Prefeita Marta Suplicy e presidentes das câmaras da Grande Lisboa, que vieram expressamente para o ato. Manifestamos, ainda, nossa gratidão aos senhores homenageados e membros da mesa, e aos convidados presentes neste plenário. O Prof. António Cândido, eterno amigo e colaborador do nosso Centro Cultural e principal homenageado nesta noite, incumbiu-nos de dizer-lhes que sua ausência deve-se a imposição médica. Deixa-nos, porém, a mensagem de que sente o maior afecto e carinho pelo 25 de Abril e lamenta não poder estar aqui presente mas está de coração. Rendemos nossa profunda homenagem ao prof. Dr. Renato Gonçalves, jovem luso-descendente, grande amigo e colaborador do Centro Cultural. Ele muito orgulha nossa comunidade pela importância política que desempenha na sociedade Paulista. Incansável, foi um dos grandes incentivadores desta jornada, apesar das obrigações de membro do secretariado do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Além de tudo isso, temos de destacar o fato de Renato ser um grande torcedor da gloriosa Portuguesa de Desportos. Destacamos, ainda, a presença de um jovem incansável e grande trabalhador pela comunidade Lusa, que é o Sr. cônsul geral de Portugal em São Paulo, Dr. Paulo Lourenço. Dr. António de Almeida e Silva, presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas de São Paulo, grande amigo que sempre tem apoiado a defesa da democracia na nossa comunidade, obrigado por prestigiar este encontro. Ao jovem prof. Doutor José António Fernandes, que nos abrilhantou com a sua luso-jovialidade, nossa gratidão. Nosso agradecimento e nossa homenagem aos convidados, Prof. António Cândido, Prof. Ernesto M. de Melo e Castro, Luís Serguilha, Prof. Maria Candelária Morais, Vereador Paulo Fiorilo, Escritor e cartunista Zélio Alves Pinto. Apresentamos nossa gratidão ao Comendador António dos Ramos, presidente da Casa de Portugal, ao Comendador Rui Fernão Mota e Silva, ao Comendador Fernando Ramalho, presidente da provedoria de São Paulo e ao Dr. Fernando Leça. Não podemos deixar de agradecer o patrocínio da BRASPOR e também a dedicação dos amigos, prof. Rita Alves; da artista plástica Annapana, do prof. Miguel Reis e da Dra. Celma. Enfatizamos o trabalho dos membros da equipe do vereador Paulo Fiorilo e de todos os artistas participantes deste solenidade, sem os quais ela não seria possível em tamanha magnitude. Também orgulhosamente podemos declarar que este evento integra as comemorações oficiais do ano Portugal no Brasil, com o aval do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Gratos a todos os representantes das associações Luso-Brasileiras e às autoridades aqui presentes, assim como aos senhores jornalistas.
Sobre o 25 de Abril
Senhores e Senhoras, meus amigos:
Hoje relembramos e comemoramos os acontecimentos de 39 anos atrás, ocorridos na madrugada do dia 25 de Abril de 1974, quando um punhado de bravos militares portugueses comandados por seus capitães, Salgueiro Maia, Mello Antunes, entre outros, liderados pelo então Major Otelo Saraiva de Carvalho, iniciaram um grande movimento militar, que, ao unir-se nas ruas com o povo português, deram origem à grande e pacífica Revolução dos Cravos. Foi então sepultada para sempre a era salazarista, opressora do povo português por mais de 48 anos. Salientamos que aquela ditadura, além de reprimir todas as liberdades democráticas da nação portuguesa, foi responsável por uma catástrofe económica, detonadora do maior exílio voluntário de um povo que não se encontrava em estado de guerra dentro de suas fronteiras. Durante o período do governo do ditador Salazar, a emigração de portugueses pelo mundo afora representou a saída de aproximadamente 20% da população de Portugal, equivalente a quase 2.000.000 de cidadãos. Recordemos um pouco a história de alguns dos acontecimentos que motivaram a criação do Centro Cultural 25 de Abril, nesta data homenageado. Eles estão intimamente ligados ao caminho que contribuiu para a Revolução dos Cravos. Não podemos deixar de falar sobre aqueles portugueses que, inconformados com a ditadura salazarista, levantaram a bandeira da democracia e da liberdade, enfrentando, com coragem, devoção e patriotismo, o regime implantado em Portugal em 1926, com o eufemístico título de "O Estado Novo". De "novo" ele não tinha nada, era a volta de um passado autoritário: opressão aos trabalhadores, aos intelectuais, a muitos empresários, enfim, aos que não trilhassem pela cartilha do regime. As prisões políticas estavam sempre lotadas de patriotas. A ausência em Portugal das liberdades democráticas e portanto da imprensa livre e sem censura, levou à necessidade de ser fundado fora de nossa pátria um jornal que fosse um marco na defesa dos ideais democráticos e uma trincheira na luta antifascista. Surgiu, assim, o "Portugal Democrático" , fundado em 1954 em São Paulo, nesta terra maravilhosa de acolhimento que é o Brasil. Congregou no seu entorno algumas das mais importantes e nobres figuras da intelectualidade portuguesa exilada, em que destacamos Fidelino de Figueiredo, Jorge de Sena, Vítor Ramos, Miguel Urbano Rodrigues, Fernando Lemos, João Alves das Neves entre outros, além de grande número de cidadãos portugueses emigrados e exilados, das mais variadas actividades profissionais e convicções políticas, destacando-se Alfredo Masson, Alexandre Pereira, Augusto Aragão, Alexandre Leal, António Bidarra Fonseca Luís Botelho, Floriano Durão, Carlos Seabra e tantos outros. Importante citar a grande colaboração de intelectuais brasileiros, entre os quais os professores António Cândido de Mello e Sousa Florestan Fernandes e Paulo Emílio Salles Gomes, a escritora Lygia Fagundes Telles, Sílvio Band entre tantos outros não mencionados agora, entretanto de não menor importância para o movimento democrático português. Brasileiros, inconformados com o regime político em Portugal, denunciaram ao mundo os crimes lá praticados. O jornal "Portugal Democrático" manteve-se durante mais de 20 anos como porta-voz da oposição portuguesa emigrada e sobreviveu com parcos recursos oriundos do trabalho de um punhado de heróicos colaboradores. Muitos dedicaram sua vida, ainda que com sacrifício pessoal, a fim de manter acesa a luta pela restauração da democracia em Portugal. Podemos afirmar ter sido ele o único periódico publicado no Brasil, durante a ditadura militar que, apesar de suas posições progressistas, não se curvou à censura prévia: resistiu corajosamente, apesar das ameaças quase diárias à sua integridade e à de seus colaboradores. Assim, no pós-Revolução dos Cravos e extinção do Jornal "Portugal Democrático", surgiu o Centro Cultural 25 de Abril, pleiteando pela continuação dos ideais do trabalho iniciado em São Paulo. Por sua importância histórica o Centro Cultural 25 de Abril depositou em 2012 na Torre do Tombo, em Lisboa, a colecção completa do jornal. Lá se encontra, ironicamente, junto ao acervo documental da ditadura. Não podemos, por isso, deixar de exaltar neste ato muitos de nossos companheiros, alguns já falecidos, que, com seu trabalho e esforço, construíram a história e dela já fazem parte. Aqui neste plenário, queremos homenageá-los, a titulo de agradecimento, de uma maneira simples, mas carinhosa, respeito e profunda admiração. Por vezes nos perguntamos por que comemorar uma revolução que ocorreu há tantos anos, mais precisamente 39. Como reflexo da vitória da republicana Revolução dos Cravos, caíram as ditaduras na Grécia e na Espanha. Em seguida, uma a uma foram sendo derrubadas as ditaduras de militares na América do Sul e Central. O mundo assistia pela primeira vez o exército ao lado do povo português, lutando por um estado democrático. Cremos que a luta pelos ideais democráticos deve ser permanente, pois o autoritarismo, a violência, o obscurantismo, os métodos ditatoriais estão sempre à espreita, como forma oportunista de dominar a sociedade num todo. Comemorar a Revolução dos Cravos é manter acesa a vigilância na manutenção dos ideais democráticos. A catastrófica situação que Portugal atravessa hoje junto à União Europeia causa-nos apreensão, entretanto não deve empanar o brilho de nosso evento. O exílio voluntário não ocorreu somente durante a ditadura salazarista. Mais de 3 milhões de portugueses emigraram nos últimos 35 anos; 1/3 da nossa população teve de abandonar sua pátria, seus familiares, seus amigos. Dizer que a vocação dos portugueses é a de emigrar é pura hipocrisia, assim como cinicamente mandar os jovens desempregados emigrarem, como faz o actual governo. Essa postura chega às raias do deboche É muito triste para nós, emigrantes, ver nosso querido Portugal estar sob a tutela da troika (Comissão europeia, Banco Central Europeu e FMI), cujas medidas recomendadas ao actual governo estão levando milhares e milhares de portugueses ao desemprego e à miséria. Além disso, pelas próprias palavras do Presidente da Comissão Europeia, o antigo primeiro ministro português Durão Barroso, proferidas anteontem, Portugal está sendo discriminado pela Alemanha e outros países além dos Pirenéus.
Senhores, os ideais do 25 de Abril não são esses. A democracia por vezes tem um custo alto quando mal gerida. Vários governos no pós-25 de Abril tentaram - e já conseguiram - desfazer algumas de nossas conquistas, oriundas da revolução, todavia o povo está vigilante e ideais de luta continuam e prevalecerão.
Nós, emigrantes, estamos preocupados com a situação de nossos irmãos em Portugal.
Nós, portugueses, queremos paz e oportunidades de trabalho.
Senhores, novamente agradecemos sua presença e a paciência de ouvir um discurso talvez extenso para uma cerimonia festiva como esta.
Viva o ideal democrático, agora, sempre e em todo o mundo!
VIVA O 25 DE ABRIL!
VIVA PORTUGAL!
VIVA O BRASIL!
VIVA A LIBERDADE!